CANÇÃO DA PLENITUDE
Lya Luft
Não tenho mais os olhos de menina
nem corpo adolescente, e a pele
translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura
abrandada pelos anos e o peso dos fardos
bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)
O que te posso dar é mais que tudo
o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir
quando em outros tempos choraria,
busca te agradar
quando antigamente quereria
apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza
e juventude agora: esses dourados anos
me ensinaram a amar melhor, com mais paciência
e não menos ardor, a entender-te
se precisas, a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força -- que vem do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo e confiável
cujas marés -- mesmo se fogem -- retornam,
cujas correntes ocultas não levam destroços
mas o sonho interminável das sereias.
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2 comentários:
Por favor, Rubens Dornas, de quem é o olhar feminino do dia 19 de fevereiro? É o olhar mais lindo já publicado no seu blog até hoje. Peça à Marsiah para deixar de ser teimosa e atender ao meu pedido. Desejo-o republicado e de rosto inteiro. Sou aficcionado por poesia, acho essa coluna a melhor coisa do blog, e a poesia mais bonita já publicada foi aquele par de olhos. Mais lindos que os de Lia Luft!
Ah, me desculpem, voltei por dois motivos: primeiro, Lya é com "y" (of course!, aquela finesse nunca poderia ser com "i"); segundo, 'a íris cor de mel' de hoje está digna de uma 'tigresa', como diria o Cae nos seus bons tempos.
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