O DIA DOS PEDINTES
MÁRCIA ROSA
Daí que em um intervalo de apenas cinco minutos, no ponto do ônibus, fui abordada pelos seguintes pedintes: Primeiro, a moça do “Pessoal da Sopa”. Pra quem não conhece, são pessoas comuns e de coração bom que se reuniram pra proporcionar, na calada da noite, uma sopinha quentinha para os moradores de rua. Ela chegou ao ponto com toda dignidade, portando inclusive crachá com foto, disse a que veio, pediu contribuições e prontamente a maioria dos passageiros, fora os de bordo, contribuiu. Justo. Em um segundo momento, logo ali, atrás da moça da sopa, estava uma figura já conhecida; uma moça com problemas de saúde que não consegue ajuda do SUS e por isso desconta na gente. Ela explica com detalhes seus problemas, diz que a ajuda do governo esta atrasada, mostra suas deficiências físicas, inclusive nos convidando a tocá-la para comprovar. Pede a ajudinha e aí apenas algumas pessoas fazem sua contribuição. Até porque quem está ali todos os dias, desculpe, mas... já tá de saco cheio dela. E, pra fechar com chave de ouro, vem a Sra. Pedinte Maluca. Ela é moradora de rua, com óbvios problemas mentais. Visto que, outro dia mesmo a vi, em uma rua movimentadíssima e em horário de pico, plantando bananeira e ao mesmo tempo(!) fazendo xixi em uma árvore. Se você tem estômago pra isso, realize esta cena na sua cabeça, lembrando que eu ainda nem tinha tomado o café da manhã. Pronto? Então, essa senhora me aparece, aos trancos, pedindo “Me dá um dinheiro pro café!”. Só lembrando: Tudo isso aconteceu hoje, em um mísero intervalo de cinco minutos.
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