Rastros do verão - João Gilberto Noll
Rastros do verão trata de um narrador vagando por uma cidade deserta, numa terça-feira de Carnaval. Na bagagem, somente as próprias lembranças."Baixei os olhos, olhei meu copo: um resto de chope sem sombra de espuma. Quando voltei a olhar o garoto ele estava com o braço erguido chamando pelo garçom. Vieram mais dois chopes. O garçom abriu a vidraça ao nosso lado. Perguntei o que ele faria se o seu pai aparecesse. Ele olhou pela janela em direção ao Mercado, e disse que qualquer um poderia aparecer e declarar ser seu pai que ele não teria como acreditar ou não - a única imagem que tinha dele era a de um homem sem face. Novamente baixei os olhos. E virei o braço como quem consulta o relógio no pulso. Mas o meu pulso estava nu. Então cocei a região do pulso, e me senti covarde."
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O TEMPO
Ronaldo Costa Fernandes
O tempo e sua matéria
a máquina dos meus humores
tão rica e mineral
enquanto lá for
a sonata dos desatinos
orquestra o boi que se estende no varal.
O tempo e sua miséria,
deus negro que não encontra o sono.
O tempo e sua morfologia
feita de nada e de tudo
como alguém que anda
com os calcanhares para a frente.
O tempo e sua bílis negra,
atrabiliário e perverso,
monstro do Loch Ness,
ó profundeza feita de vazio.
O tempo e sua caixa de música
o lugar dos sons prisioneiro,
o que se escuta é o silêncio das horas
lambendo o ar rarefeito.
O tempo — animal que não envelhece,
nós é que passamos por ele
como alguém que acena de um ônibus
para a imobilidade saudosa
de um bar à beira da estrada.
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